MULTIPLEX , de Rui Horta
Dança
9 de maio |
sexta| 21h30 | Grande Auditório
Entrada: 10 EUROS/
Estudantes e Cartão Quadrilátero Cultural: 5 Euros
M/16
Duração: 60
m
MULTIPLEX |a necessidade de se estar onde se está
Multiplex é uma reflexão sobre a complexidade. É sobre
construções, vitórias, derrotas, pertença, e tudo aquilo que nos faz ser o que
somos: a necessidade de estarmos onde estamos. É também sobre a perda de tudo
isso.
Que palavras melhores do que as de Yourcenar, nas suas
Memórias de Adriano, para nos falar desta mesma complexidade e da qual apenas
ficam os fragmentos; da obcessão pela perfeição mas também do peso da obra por
construir e da responsabilidade do legado.
Adriano confronta-nos a cada instante com esta
dualidade: mesmo se o homem é livre, já a obra construída está para além desta
liberdade. A perda co-habita com a construção, o ajuste de contas final é
implacável.
É a complexidade do mundo interior de Adriano que me
interessa. O mesmo mundo que fascinou Yourcenar, ela que nos lembrava que
refazia por dentro o que os arqueólogos do séc. XIX haviam feito de fora, ou
ainda, que a melhor maneira de recriar o pensamento de um homem era
reconstituir a sua biblioteca. Trabalhar sobre o tempo, sobre a memória... Como
se os odores de Ítaca, das amendoeiras e das figueiras, estivessem sempre
presentes. Como se todo um Sul permanentemente adiado, iluminasse uma vida de
combates e negociações, longos invernos na lama fria do Norte ou intermináveis
campanhas nos desertos da Asia Menor. Mas sempre como pano de fundo as colinas
de Atenas.
Multiplex desenrola-se nesta complexa teia entre o
preto e o branco, nesta inevitabilidade do negativo que espreita os momentos
mais brilhantes das nossas existências: a necessidade de estarmos onde estamos.
Os intérpretes são o actor Pedro Gil e a bailarina italiana Silvia Bertoncelli,
que nos últimos anos têm colaborado comigo (Estado de Excepção, Danza
Preparata). Intérpretes de uma enorme qualidade e cuja maturidade é essencial
para esta obra. A banda sonora / criação musical será da autoria de Tiago
Cerqueira. Os figurinos de Aleksandar Protic. A robótica e a realização video
de Guilherme Martins e André Almeida (Ártica). A encenação, coreografia, luzes,
espaço cénico e o texto adicional serão da minha responsabilidade.
Adriano, homem cultíssimo e complexo, foi,
provavelmente, o mais genial dos imperadores que Roma gerou, não um
conquistador, mas um pacificador e administrador sábio, determinado a legar um
império forte e organizado. O magnífico texto de Marguerite Yourcenar,
livremente por mim adaptado, conduzirá a obra, não como relato cronológico mas
como experiência emersiva e sensorial.
Rui Horta
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