terça-feira, 18 de abril de 2006

Mórbidos e orgânicos, no final do mês:

Pop/Post Rock
PIANO MAGIC (UK) + SOUTHERN ARTS SOCIETY (ES)
29 ABRIL sábado 23.30 café-concerto
Entrada: 8 euros
www.piano-magic.co.uk
www.southernartssociety.com

Piano Magic – depois do doom metal, a gloom pop? O disco mais soturno e mórbido da história da música popular urbana (até na capa, com um cadáver de olhos vidrados deitado na cama, ramos de árvore saindo-lhe da cabeça) chegou, e o mais estranho é que nos apresenta a morte com um enorme bom gosto e uma leveza que não encontramos em outros títulos anteriores deste projecto. Trata-se mesmo do mais acessível álbum dos Piano Magic de Glen Johnson, marcado pelo "spleen" da cinzenta cidade de Londres, que o cantor e compositor diz ser nociva para a sua alma em "I Must Leave London". Inspirado na electro-pop da década de 1980 e com incursões na presente techno, o pop-rock (quase) electrónico de "Disaffected" tem referências muito concretas, e designadamente à sonoridade típica dos catálogos Factory e 4AD, remetendo-nos também muito frequentemente para os melancólicos Joy Division ou para os guitarrismos de Vini Reilly nos Durutti Column. Angéle David Guillou canta no tema que dá título a este trabalho de uma forma que não dista muito da de Kristin Hersh nos Throwing Muses, e certamente que tal não acontece por acaso: esta é uma música de continuidade, não de rupturas, fiel ao património recente ainda que apostada em inovar. "All I need is love and music, love and music 'til I die", canta o melómano e informado Johnson. As semelhanças com o anterior "The Troubled Sleep of Piano Magic" são muitas, mas o que esse disco tinha ainda de obscuro este novo trabalho explicita, mormente a sua vocação new-new wave, funcionando como uma revisão dos Cure ou dos New Order para os anos 00 do século XXI, com o lado etéreo dos This Mortal Coil e o "noisy" dos My Bloody Valentine. São muitos os fantasmas que habitam as canções dos Piano Magic, como se vê, e por falar em fantasmas eis mais um em "Your Ghost", interpretado por John Grant, a voz dos Czar, e outros mais em "Theory of Ghosts", um lamento sobre as raparigas que partem na Primavera por saberem, na sua crueldade, que a dor causada é maior durante o Verão. Tantas almas do outro mundo (e deste), aliás, fizeram com que o estilo deste grupo fosse apelidado de "ghostrock". É pegar ou largar.

Southern Arts Society – antes envolvido em grupos como Strange Fruit, Aquaplane e A Popular History of Signs, Andy Jarman estreia-se a solo com um álbum no qual a electrónica está no eixo do encontro entre o seu gosto pela canção pop e a sua perspectiva cinematográfica do ambientalismo. E porque se trata de uma colecção de canções, alguns cantores são convidados, como Glen Johnson (Piano Magic), Angèle David-Guillou (Klima, Piano Magic), Stasola (Oslo Telescopic) e Marielle Martin (Playdoh), ainda que seja a sua voz o protagonista, num registo que por vezes se confunde com o de Syd Barrett, o mítico fundador dos Pink Floyd. "Southern Arts Society" tem o "sampling" e a digitália como base, mas os materiais utilizados são muito orgânicos, o que o acrescento do piano e da guitarra acústica ainda mais reforça. Neste disco de teor acentuadamente melancólico e agridoce, as letras interpretadas versam temáticas como a distância e a irrecuperável passagem do tempo, abstracções que convidam a uma abordagem filosófica não muito comum neste formato. Embora seja um trabalho para ouvir em recolhimento, algumas faixas convidam à dança, como "Turbulent Heart", com Johnson inserido num contexto que os fãs de Piano Magic não reconhecerão como seu.

1 comentário:

Anónimo disse...

Queria deixar aqui o meu mui obrigado pelo que têm contribuido no enriquecimento da Cultura Musical, especialmente pelos preços acessiveis dos vossos espectáculos..no entanto queria tambem deixar o meu lamento para com o facto de o concerto de Piano Magic se realizar no Café-Concerto, e não no Grande Auditório.Espero que à ultima hora, haja uma grande procura, de forma a que se possa transferir para o referido Grande Audtório.

O meu mui obrigado ... larry