Lula Pena
Música/Folk
31 de Março| Sábado | 23h00 | Café Concerto
Entrada: 7 euros
M/4
Duração: 60 m
Este “Troubadour” é também, de certa forma, o culminar de um processo metalinguístico e metamusical que, ao longo dos anos, transformou em autora alguém que nasceu como Intérprete. Independentemente da matéria-prima de que dispõe, compare-se o que aqui se ouve com os temas reunidos em “Phados” e a impressão que fica é que passou a ser mais sua toda a música que já existe no mundo. Porque o gosto e o culto da citação se tornaram acessórios a uma vontade expressa de transmutação. É um facto que paralelamente se traduz numa técnica à guitarra em tudo tão pessoal quanto a vocal, embora mais secreta e baseada numa gestão do silêncio absolutamente ímpar, como um rio que corre subterrâneo, espelhando movimentos à superfície e multiplicando-os infinitamente num jogo de reverberação e dissonância. Como não poderia deixar de ser vindo de alguém que muitas vezes fala em labirintos, são, voz e guitarra, possibilidades para que se percam os seus ouvintes. Por mais que nos custe – porque sabemos que o mundo seria melhor com mais discos seus – parecem ter sido necessários todos estes anos longe do escrutínio público para que ganhasse mais profundidade um estilo que, pedindo emprestado ao fado, à bossa, a rancheras, ao tango, à chanson, ao flamenco, a tudo, não se pode hoje dizer que pertença a mais alguém. Ou, inversamente, disso que lhe é extrínseco depende tanto que a sua razão de ser pode ser essa mesmo, dispor-se de forma frágil à vontade dos outros. É um exercício em que se oculta e revela sabendo-se que na troca algo se perde e ganha.
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