Título da exposição “ Two Moons”
De 5 a 28 Fevereiro no foyer da Casa das Artes
www.antoniosa.com
Em Agosto de 1999, no decurso de uma viagem de cerca de cinco meses que me levou da Mongólia à China e daí até à Coreia do Sul, visitei a remota aldeia de Dazue, aninhada junto às águas do lago Lugu, entre as províncias chinesas de Yunnan e Sichuan. Ao procurar alojamento quis o destino que fosse acolhido pela família Wang. Os seus membros pertencem às etnias minoritárias Naxi e Mosu - uma das derradeiras sociedades matriarcais do planeta. Fiquei por uma semana. Apesar da total barreira linguística, consegui travar animados, e às vezes hilariantes, diálogos gestuais. A casa de madeira era tão simples como as demais na aldeia - não havia água corrente nem luz eléctrica, nem sequer uma casa de banho - e toda a vida da família andava à volta das coisas verdadeiramente essenciais: conseguir sustento e criar os filhos. Eram de facto muito pobres segundo os critérios ocidentais, mas arranjavam sempre tempo para se divertirem com as banalidades quotidianas.·Mais tarde, em Março de 2001, durante uma visita ao Novo México, EUA, um acaso fez com que tropeçasse numa vivência semelhante. Enquanto conduzia por uma caminho de terra junto à povoação de Pecos, deparei com uma habitação de adobe e madeira em cujo quintal se viam três cavalos e um velho autocarro escolar. Era a casa de Two Moons, uma mulher descendente de nativos americanos da tribo Zuni. Vivia com Jacob Sandoval, seu companheiro, e JJ (Jay-Jay), o mais novo de nove filhos. Passei alguns dias com eles.·Não tinham água corrente nem electricidade, algo difícil de imaginar neste país quando não se é amish ou hippie. Moons era o centro deste pequeno núcleo familiar, e dava para perceber a sua importância quando distribuía tarefas a JJ e a Jacob, ou pela forma como todos os outros filhos - já maiores de idade - a cercavam durante as visitas de fim-de-semana. Era uma autêntica matriarca.·Estas foram das experiências mais marcantes na minha vida como fotógrafo. Durante a estadia na China não podia imaginar que iria conhecer um dia esta peculiar família americana. E quando os encontrei, já não podia deixar de pensar nos Wang e de como estas duas histórias se tocavam ou, pelo menos, me tocavam.·São dois mundos diferentes, geográficos e culturalmente distantes, e no entanto tão parecidos naquilo que é o essencial da existência humana.·Dois mundos. Duas faces do mesmo planeta. Two Moons, se quisermos.
António Sá
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