sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Dia Mundial do Teatro

BULULÚ – Estórias da Invenção do Mundo de Moncho Rodriguez, com Cristina Cunha e Pedro Giestas, Teatro Invisível.
27 de Março, Quinta- feira, 21h30, Grande Auditório.
Entrada: 5 euros
M/12
Duração 90 m
http://www.teatroinvisivel.com/

Amadeus e Bartolomeus são dois cómicos tão antigos como o próprio teatro, o que é o mesmo que dizer: tão antigos como a Terra. Dizem que eles têm mais de 400 anos. Acabam de chegar a um lugar onde pensam realizar o seu ofício de cada dia ou seja: representar. Preparam os seus instrumentos, suas roupas e máscaras e decidem contar o famoso romance da Invenção do Mundo, inspirado no “Grande Teatro del Mundo” de D. Pedro Calderon de La barca.
Tudo parece correr bem com a representação onde se recita e ao mesmo tempo se explica e comenta, cada momento da comédia clássica onde Deus, o criador, reparte os papéis para que o mundo se represente. Em determinado momento, tomado pelo espírito da crítica, Bartolomeus questiona as razões do porquê devem eles, comediantes famintos, continuar…Para que servem eles, os cómicos. Para quê as palavras. Para quê os sonhos.
Diante desse conflito, os dois comediantes desafiam-se numa tremenda luta entre a acção da arte e a sua necessidade numa sociedade cada dia menos poética, menos sensível e inevitavelmente consumista. Travam um patético jogo onde se expõem os conflitos entre a razão e o sonho, entre o real e o imaginário. Recordam os caminhos que percorreram ao longo de toda a sua existência, os quatrocentos anos do teatro ibérico. Das peripécias e aventuras vividas por todos os cómicos até chegarem aos dias de hoje, onde se esbarram diante do vazio, do silêncio, da indiferença.
Bartolomeus, alma gémea de Amadeus, decide que é inútil seguir, que não vale a pena continuar a repetir os mesmos gestos, as mesmas loas, as mesmas falas, com as mesmas caras e a mesma fome. Faz o seu testamento, deixando para aqueles que queiram seguir a arte no futuro todo o seu património de 400 anos de teatro. Amadeus vendo-se só, outra vez Bululú, num gesto dramático canta uma canção, como um hino de despedida, um apelo. Bartolomeus, despido de todas as suas vestes, absolutamente só e perdido, prestes a desaparecer no escuro, instintivamente repete, por dor ou saudade, o refrão da canção que dá alma ao comediante. Juntos terminam a cantar.

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