Comemoração 16º Aniversário da Casa das Artes de Vila
Nova de Famalicão
2.1Filme - BAILARINA (versão portuguesa)
2 de junho |
sexta-feira |15h00, 18h30, 21h30|
Grande Auditório
Entrada: 2 EUROS/
Estudante e Cartão Quadrilátero Cultural: 1 euro
Felícia é uma jovem
órfã da Bretanha que tem apenas um sonho: dançar. Com o seu melhor amigo
Victor, que se quer tornar um grande inventor, engendra um plano para fugirem
do orfanato para Paris, a Cidade das Luzes, onde a Torre Eiffel ainda está a
ser construída! Felícia terá de lutar como nunca para se superar e aprender com
os seus erros, de forma a realizar o seu maior sonho: tornar-se uma bailarina
principal da Ópera de Paris... Co-realizado por Éric Summer e Éric Warin, um
filme de animação computadorizada que, na versão internacional, conta com as
vozes de Elle Fanning, Dane DeHaan, Maddie Ziegler e Carly Rae Jepsen. Na
versão dobrada em português, as vozes são de Mia Rose, Miguel Cristovinho,
Cifrão, Sara Prata, Mafalda Vilhena, Bruno Ferreira, Margarida Carvalho e Vítor
Norte.
Classificação: M/6
Título original:
Ballerina (França/Canadá, 2016, 89 min)
Realização: Éric
Summer e Éric Warin
Interpretação: Eric
Summer, Éric Warin, Elle Fanning (Voz), Dane DeHaan (Voz), Carly Rae Jepsen
(Voz), Maddie Ziegler (Voz)
Género: Animação
2.2
ALINE FRAZÃO (Angola) + VITOR
RAMIL (Brasil)
"Cruzeiro
do Sul”, constelação que só se vê no céu do hemisfério sul. Tem forma de cruz e
aponta para sul.
3 de junho| sábado| 21h30 | Grande Auditório
Entrada: 2 EUROS/ Estudantes e Cartão Quadrilátero
Cultural: 1 Euros
Duração: 90 min
Classificação etária M/6
VITOR RAMIL ...............................................................................................
Compus minha
primeira milonga, Semeadura, aos dezassete anos, inspirado em Mercedes Sosa, a
grande intérprete argentina. Como num passe de realismo mágico, desses que
seria excessivo na literatura, mas razoável na vida real, a própria Mercedes
gravaria essa milonga anos depois, em seu disco Será posible el sur.
Em 1999 Mercedes
Sosa pediu-me uma versão para o espanhol de minha canção Não é Céu, que
considero minha primeira canção com acento de bossa-nova. Sempre gostei muito
de Não é Céu, mas, no começo, não me foi fácil aceitá-la por causa de sua
filiação nitidamente carioca ou tropical. Talvez esse dilema não possa ser
entendido facilmente, mas, para um brasileiro do Rio Grande do Sul, extremo sul
do Brasil, região de clima temperado, fronteira com Uruguay e Argentina, nem
sempre é fácil reconhecer seu direito à tradição do Brasil tropical, que é como
o mundo identifica nosso país.
Em minha trajetória
tenho reagido aos estereótipos da brasilidade e do gauchismo (esse último,
caracteriza os rio-grandenses). Parte desse esforço se traduz em minhas
tentativas de criar uma linguagem síntese a partir, principalmente, das
milongas e das canções. O interesse de Mercedes, cujo bom gosto para seleção de
repertório era notório, por essas facetas distintas das minhas composições,
avalizou para mim mesmo minha busca estética; disse-me que eu me movia com
desenvoltura nas tradições “brasileira” e “gaúcha” a ponto de poder realizar
algo pertinente a partir delas.
Em minha primeira apresentação solo em Famalicão
reunirei canções e milongas, sempre
buscando suas conexões e seus desdobramentos como expressão do meu imaginário.
No repertório músicas de délibáb e Foi no mês que vem, meus álbuns mais
recentes, e alguma inédita de meu próximo disco, Campos Neutrais, com
lançamento previsto para 2017.
ALINE FRAZÃO
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Nasci e cresci em
Luanda, no norte de Angola. Lá nos dizemos “do Norte”, por mais do Sul que seja
a nossa latitude no mapa-mundi. Desde a sua fundação, há mais de 400 anos, que
Luanda olha mais para o Oceâno Atlântico do que para o sertão continental às
suas costas. Eu mesma, nas praias da minha infância, imaginava que se nadasse
muito-muito chegaria ao Brasil.
Inevitavelmente, a
história da capital mistura-se com a minha própria identidade familiar. Meu avô
materno, um cabo-verdiano badíu da Ilha do Fogo, meteu-se num barco ainda em
criança para tentar a sorte em Luanda. Lá conheceu a minha Avó, uma mulher
mestiça de Ndalatando, Kwanza Norte. Já a minha avó paterna, de família
portuguesa, nasceu no Rio de Janeiro e casou com um homem do norte de Portugal,
meu avô. Juntos emigraram para Angola, onde fizeram família.
Em Luanda nasceram
meus pais, onde sempre moraram e para aonde eu acabo de regressar depois de 10
anos entre Portugal e Espanha.
A História conta que
em Luanda reinaram africanos, portugueses e até holandeses. No pós-independência,
portugueses, cubanos, soviéticos, cabo-verdianos e gente de todas as partes de
Angola confluiram na capital, infuenciando a matriz cultural da cidade, uma
matriz tantas vezes generalizada injustamente para o resto do país.
Foi no meio dessa
impura teia que comecei a cantar. Mas foi longe de Angola, a mais de cinco mil
quilómetros para norte, onde me comecei a perguntar quem eu era. Provavelmente,
durante o inverno.
Cedo me descobri do
Sul, ainda que, numa primeira fase, esse Sul fosse mais uma intuição. Vi como
me encaixava com gentes da América do Sul, em especial com o Brasil. Foi com a
bossa-nova que aprendi a escrever canções no violão, moldando de tal forma a
minha sonoridade que em Angola até hoje há quem pense que sou brasileira. A
necessidade de afirmação foi se manifestando de várias formas ao longo dos meus
vinte anos.
Sei que a minha
busca pessoal por uma identidade não é uma caminhada solitária. Enquadra-se num
contexto com que me deparo diariamente. Aonde quer que eu vá, vejo como as
pessoas querem saber a que tribo pertencem. Identidade é segurança, talvez.
Identidade, no singular, é também uma mapa armadilhado que nos despista daquilo
que somos juntos, na força imparável que isso tem.
Mas é verdade, eu me
digo “do Sul”, uma das minhas tribos, sabendo que nesse Sul também faz frio e
que nem todo mundo sabe dançar. Me digo “do Sul”, sabendo que precisamos
desmentir os mitos que outros escreveram sobre nós. Me digo “do Sul” carregando
em mim a infinita curiosidade de conhecê-lo e reinventá-lo.
No meio da busca
desnorteada por um ponto cardeal que me defina, vou compreendendo que nas
palavras e na música encontro o meu templo, a minha breve salvação pessoal para
os dias frios de cacimbo e para a humidade tropical insuportável de dezembro.
Arrumei as minhas
bússulas. O caminho é pelo outro lado