sexta-feira, 26 de maio de 2017

16º Aniversário da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão | ALINE FRAZÃO (Angola) + VITOR RAMIL (Brasil) | Cinema e Música.


Comemoração 16º Aniversário da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão
 2.1Filme - BAILARINA (versão portuguesa)

2 de junho | sexta-feira |15h00, 18h30, 21h30| Grande Auditório

Entrada: 2 EUROS/ Estudante e Cartão Quadrilátero Cultural: 1 euro
Felícia é uma jovem órfã da Bretanha que tem apenas um sonho: dançar. Com o seu melhor amigo Victor, que se quer tornar um grande inventor, engendra um plano para fugirem do orfanato para Paris, a Cidade das Luzes, onde a Torre Eiffel ainda está a ser construída! Felícia terá de lutar como nunca para se superar e aprender com os seus erros, de forma a realizar o seu maior sonho: tornar-se uma bailarina principal da Ópera de Paris... Co-realizado por Éric Summer e Éric Warin, um filme de animação computadorizada que, na versão internacional, conta com as vozes de Elle Fanning, Dane DeHaan, Maddie Ziegler e Carly Rae Jepsen. Na versão dobrada em português, as vozes são de Mia Rose, Miguel Cristovinho, Cifrão, Sara Prata, Mafalda Vilhena, Bruno Ferreira, Margarida Carvalho e Vítor Norte.

Classificação: M/6

Título original: Ballerina (França/Canadá, 2016, 89 min)

Realização: Éric Summer e Éric Warin

Interpretação: Eric Summer, Éric Warin, Elle Fanning (Voz), Dane DeHaan (Voz), Carly Rae Jepsen (Voz), Maddie Ziegler (Voz)

Género: Animação

2.2

ALINE FRAZÃO (Angola) + VITOR RAMIL (Brasil)

"Cruzeiro do Sul”, constelação que só se vê no céu do hemisfério sul. Tem forma de cruz e aponta para sul.

3 de junho| sábado| 21h30 | Grande Auditório

Entrada: 2 EUROS/ Estudantes e Cartão Quadrilátero Cultural: 1 Euros

Duração: 90 min

Classificação etária M/6
VITOR RAMIL ...............................................................................................

Compus minha primeira milonga, Semeadura, aos dezassete anos, inspirado em Mercedes Sosa, a grande intérprete argentina. Como num passe de realismo mágico, desses que seria excessivo na literatura, mas razoável na vida real, a própria Mercedes gravaria essa milonga anos depois, em seu disco Será posible el sur.

Em 1999 Mercedes Sosa pediu-me uma versão para o espanhol de minha canção Não é Céu, que considero minha primeira canção com acento de bossa-nova. Sempre gostei muito de Não é Céu, mas, no começo, não me foi fácil aceitá-la por causa de sua filiação nitidamente carioca ou tropical. Talvez esse dilema não possa ser entendido facilmente, mas, para um brasileiro do Rio Grande do Sul, extremo sul do Brasil, região de clima temperado, fronteira com Uruguay e Argentina, nem sempre é fácil reconhecer seu direito à tradição do Brasil tropical, que é como o mundo identifica nosso país.

Em minha trajetória tenho reagido aos estereótipos da brasilidade e do gauchismo (esse último, caracteriza os rio-grandenses). Parte desse esforço se traduz em minhas tentativas de criar uma linguagem síntese a partir, principalmente, das milongas e das canções. O interesse de Mercedes, cujo bom gosto para seleção de repertório era notório, por essas facetas distintas das minhas composições, avalizou para mim mesmo minha busca estética; disse-me que eu me movia com desenvoltura nas tradições “brasileira” e “gaúcha” a ponto de poder realizar algo pertinente a partir delas.

Em minha primeira apresentação solo em Famalicão reunirei canções e milongas, sempre buscando suas conexões e seus desdobramentos como expressão do meu imaginário. No repertório músicas de délibáb e Foi no mês que vem, meus álbuns mais recentes, e alguma inédita de meu próximo disco, Campos Neutrais, com lançamento previsto para 2017.

ALINE FRAZÃO ...............................................................................................

Nasci e cresci em Luanda, no norte de Angola. Lá nos dizemos “do Norte”, por mais do Sul que seja a nossa latitude no mapa-mundi. Desde a sua fundação, há mais de 400 anos, que Luanda olha mais para o Oceâno Atlântico do que para o sertão continental às suas costas. Eu mesma, nas praias da minha infância, imaginava que se nadasse muito-muito chegaria ao Brasil.

 Inevitavelmente, a história da capital mistura-se com a minha própria identidade familiar. Meu avô materno, um cabo-verdiano badíu da Ilha do Fogo, meteu-se num barco ainda em criança para tentar a sorte em Luanda. Lá conheceu a minha Avó, uma mulher mestiça de Ndalatando, Kwanza Norte. Já a minha avó paterna, de família portuguesa, nasceu no Rio de Janeiro e casou com um homem do norte de Portugal, meu avô. Juntos emigraram para Angola, onde fizeram família.

Em Luanda nasceram meus pais, onde sempre moraram e para aonde eu acabo de regressar depois de 10 anos entre Portugal e Espanha.

A História conta que em Luanda reinaram africanos, portugueses e até holandeses. No pós-independência, portugueses, cubanos, soviéticos, cabo-verdianos e gente de todas as partes de Angola confluiram na capital, infuenciando a matriz cultural da cidade, uma matriz tantas vezes generalizada injustamente para o resto do país.

Foi no meio dessa impura teia que comecei a cantar. Mas foi longe de Angola, a mais de cinco mil quilómetros para norte, onde me comecei a perguntar quem eu era. Provavelmente, durante o inverno.

 Cedo me descobri do Sul, ainda que, numa primeira fase, esse Sul fosse mais uma intuição. Vi como me encaixava com gentes da América do Sul, em especial com o Brasil. Foi com a bossa-nova que aprendi a escrever canções no violão, moldando de tal forma a minha sonoridade que em Angola até hoje há quem pense que sou brasileira. A necessidade de afirmação foi se manifestando de várias formas ao longo dos meus vinte anos.

 Sei que a minha busca pessoal por uma identidade não é uma caminhada solitária. Enquadra-se num contexto com que me deparo diariamente. Aonde quer que eu vá, vejo como as pessoas querem saber a que tribo pertencem. Identidade é segurança, talvez. Identidade, no singular, é também uma mapa armadilhado que nos despista daquilo que somos juntos, na força imparável que isso tem.

Mas é verdade, eu me digo “do Sul”, uma das minhas tribos, sabendo que nesse Sul também faz frio e que nem todo mundo sabe dançar. Me digo “do Sul”, sabendo que precisamos desmentir os mitos que outros escreveram sobre nós. Me digo “do Sul” carregando em mim a infinita curiosidade de conhecê-lo e reinventá-lo.

No meio da busca desnorteada por um ponto cardeal que me defina, vou compreendendo que nas palavras e na música encontro o meu templo, a minha breve salvação pessoal para os dias frios de cacimbo e para a humidade tropical insuportável de dezembro.

Arrumei as minhas bússulas. O caminho é pelo outro lado

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