terça-feira, 12 de novembro de 2013

Exposição de Fotografia Pepe Brix até Dezembro


O teor resplandecente do silêncio que corre os veios da ilha, contempla uma importante vontade de viajar. A ilha consente todos os espaços que evocam a dúvida e dá-nos tempo para polir a lucidez. O âmago de quem a olha tranquilamente de dentro para fora guarda as sementes nela colhidas. Os montes verdes, as planícies amarelas, o silêncio do mar fossilizado nas entranhas da orla costeira e a imensidão da gente que habita esse pedaço de terra, mantém vivo o pulsar da vereda expansiva.
Fernando Pessoa escreveu: “sentir é a melhor forma de viajar”. O pensamento é nómada, e essa liberdade de podermos crescer profundamente sem a necessidade de recorrer a um carro, um barco ou um avião, difunde a dissipação da ansiedade e dos medos que ofuscam a busca de uma visão mais clara do universo.
Nos últimos anos tenho dividido essa relação entre Santa Maria, ilha que me viu nascer, e o tempo a que me proponho viajar pelo mundo. Sinto que só está completa essa vontade de guardar a ilha na mochila e seguir viajem, quando na viajem posso guardar o mundo na fotografia e regressar. Pergunto-me muitas vezes se teria percorrido os mesmos países, as mesmas cidades ou as mesmas ruas se estivesse despido do equipamento fotográfico. Nas bifurcações, nos cruzamentos e na procura dos atalhos há sempre um brilho determinante que me conduz sempre à estrada mais rica.

O travo milenar da cultura do Nepal confere-lhe um núcleo magnético incrivelmente denso. Uma massa superior capaz de atrair todo o tipo de viajantes.  Contudo, na disparidade do objetivo dos que aí se cruzam, há um silêncio que é comum a todos, uma cumplicidade guardada na mochila que sustenta o conteúdo das mensagens partilhadas. Acredito que numa viagem que comtempla um ambiente como o do Nepal, a mais rica de todas as fontes é a tua entrega às pessoas que encontras no caminho. A harmonia que as conduz dia-a-dia é tão vasta e intensa como a força que as trouxe até ti. Poderia despir-me completamente e despender uma vida inteira para perceber o que mora verdadeiramente nas entrelinhas do povo e da montanha. Não quero. Senti-me quase sempre tranquilo, ligado, e procurei não negar a minha posição de viajante e a dimensão da minha dúvida.

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