quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Exposição de Pintura, Escultura, Desenho Cerâmica de Sylvie Brandão

Título: Néofita
Foyer, 11 de Dezembro a 31 de Janeiro 2011
A construção do pórtico de entrada para uma galeria de obras que nos conduzem ao sentido da Arte é manifesta tarefa herculeana e profundamente responsabilizadora. Prefaciar ou pré-fazer implica estar embebido no mesmo espírito e força criadora o que, manifesta e humildemente por inaptidão, não é o caso.
No encontro com o plasmado por Sylvie Brandão deparei-me com Arte como entendo ser Arte ou Arché. Para além da mera existência do canal de comunicação onde a obra se torna plástica ou coisa, o dar-se como Arte revela-se na Alegoria que verifica ou torna Verdade.
Olhando todo o acervo floresce a dinâmica metamorfose do plasmado numa outra coisa que a ultrapassa sem que a unidade se quebre e que nos encaminha para o mundo platónico das essências do que É a Arte.
A matéria enformada por Sylvie Brandão, muito para além do caractér estrito do núcleo sensível do colorido, da dureza, do maciço que assume pela mera existência do Não Ser, lança uma escadaria para a oclusa câmara do Ser.
Nas palavras Heidegger “a essência da arte seria então o pôr-se-em-obra da verdade do ente” (das Sich-ins-Werk-Setzen der Wahrheit dês Seienden).
Na essência encontramos o belo e paradoxalmente o belo no feio e o belo no belo. Serão pois as belas Artes a plasticização de caminhos em direcção à Cidade de Jerusalém em Verdade. Sylvie Brandão, como neófita, mergulha-nos em tais águas iniciáticas, no tempo sem tempo.
Ser neófito ou novo iniciado é penetrar na aventura no mundo Poético trespassar o espelho mágico da realidade. Conhecer a poesia das coisas é saborear as suas essências inebriantes ou provar do absinto da taça da semiótica. Representar as essências é usar dos modos da linguagem, linguajar na tela, nos bastões de pastel, na argila, tornar palavra ou desenhar de labirinto que nos leva de regresso ao Ser, em suma, poetizar.
Na expressão artística de Sylvie encontramos essa morada sensível do ser imanente das coisas, momentos dramáticos que revelam em simultâneo a face material e psíquica das coisas manifestadas.
Quanto a mim resta-me mirar vendo.
Paulo Sequeira Rebelo

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