Exposição de pintura de Ricardo Miranda
Titulo - “A REPULSA“
Casa das Artes, Foyer de 4 dezembro (inauguração - sexta às 21h30) a 29 Fevereiro de 2016
Coprodução: Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão e o Espaço MUDE
Titulo - “A REPULSA“
Casa das Artes, Foyer de 4 dezembro (inauguração - sexta às 21h30) a 29 Fevereiro de 2016
Coprodução: Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão e o Espaço MUDE
Não Tenho Rancores nem Ódios
“Pertenço a uma
geração que ainda está por vir, cuja alma não conhece já, realmente, a
sinceridade e os sentimentos sociais. Por isso não compreendo como é que uma
criatura fica desqualificada, nem como é que ela o sente. É oca de sentido,
para mim, toda essa (...) das conveniências sociais. Não sinto o que é honra,
vergonha, dignidade. São para mim, como para os do meu alto nível nervoso,
palavras de uma língua estrangeira, como um som anónimo apenas.
Ao dizerem que me
desqualificaram, eu não percebo senão que se fala de mim, mas o sentido da
frase escapa-me. Assisto ao que me acontece, de longe, desprendidamente,
sorrindo ligeiramente das coisas que acontecem na vida. Hoje, ainda ninguém
sente isto; mas um dia virá quem o possa perceber.
Procurei sempre ser
espectador da vida, sem me misturar nela. Assim, a isto que se passa comigo, eu
assisto como um estranho; salvo que tiro dos pobres acontecimentos que me
cercam a volúpia suave de (...).
Não tenho rancor
nenhum a quem provocou isto. Eu não tenho rancores nem ódios. Esses sentimentos
pertencem àqueles que têm uma opinião, ou uma profissão ou um objectivo na
vida. Eu não tenho nada dessas coisas. Tenho na vida o interesse de um
decifrador de charadas.
Mas eu não tenho
princípios. Hoje defendo uma coisa, amanhã outra. Mas não creio no que defendo
hoje, nem amanhã terei fé no que defenderei. Brincar com as ideias e com os
sentimentos pareceu-me sempre o destino supremamente belo. Tento realizá-lo
quanto posso.
Nunca me tinha
sentido desqualificado. Como lhe agradecer ter-me ministrado esse prazer! Ele é
uma volúpia suave, como que longínqua.
Não nos entendem,
bem sei...
...Assim como
criador de anarquias me pareceu sempre o papel digno de um intelectual (dado
que a inteligência desintegra e a análise estiola). “
Fernando Pessoa,
'Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação'
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