Justiça de Camilo Castelo Branco
Companhia Teatro de Braga
Teatro
7 de outubro | sexta-feira | 21h30 | Centro de Estudos Camilianos
Entrada: Entrada gratuita (no limite dos lugares disponíveis)
duração 90’ (c/ aproximadamente 15’ de intervalo)
classificação etária M/12
No contexto da obra camiliana a vertente dramática é a que tem merecido menos apreço da crítica literária, contudo, se analisarmos com atenção, veremos que aí estão as forças motrizes da produção novelística do Autor. O melodrama histórico; o melodrama burguês, (onde se insere Justiça) e a comédia, dão nota cabal das preocupações éticas e filosóficas do autor, do seu modo de encarar o mundo e o país, os costumes e a realidade circundante, num contexto quase sempre autobiográfico.
Em Justiça estamos num olhar peculiar sobre a sociedade e os costumes.” De um lado a utopia de uma sociedade que deveria nobiliar-se pela honra e pelo trabalho, a apologia do self-made man que, saído da pobreza, conquistará o seu espaço com probidade. Na trincheira oposta, os homens de mármore, corações empedernidos, adoradores do bezerro de ouro numa sociedade em que o homem era o lobo do homem. De um ângulo, o frémito social e tribunício espelhava as aspirações de uma classe em luta contra a aristocracia empobrecida e decadente, a viver a glória enferrujada de seus brasões. Do outro, o combate ao argentarismo sem entranhas do capital especulativo que visava impor a essa mesma burguesia, um modelo ético que a dignificasse.”
Justiça, um dos pilares do estado de direito e tema central de análise sobre a qualidade da democracia na sociedade contemporânea.
Em JUSTIÇA vemos a honradez de um pai que assistindo ao ultraje da sua filha decide fazer Justiça por sua própria mão:
….Fernando (o pai) para a autoridade: diga-me: os infames desta ordem como são punidos em
Portugal?
Administrador de Justiça: O crime de rapto tem penas designadas no código penal segundo as circunstâncias.
Fernando: Poucas palavras a uma pergunta simples… Há uma forca? Um pai, rico ou pobre, pode levar à forca o malvado que lhe atira aos pés o cadáver desonrado de sua filha?
Administrador: isso decide-se nos tribunais. Mediante um processo.
Fernando: É muito demorado esse processo?
Administrador: tem os trâmites da lei, testemunhas, depoimentos, provas, um juiz enfim.
Fernando: que provas senhor? O que são aqui as provas? Quem vem depor a tribunal contra este homem? É essa mulher que aí está dentro agonizando?
Administrador: Não sei… o preso é amanhã entregue ao crime, e seja-lhe V. Sª parte.
Fernando, engatilhando a pistola: eu não parte, sou juiz. (Abreu, o meliante recebe um tiro no peito e cai)
“Olho por olho dente por dente”, a velha máxima a que sempre se acorre em razão do secular atraso no “tempo da Justiça”. Justiça: um olhar sobre Portugal.
Rui Madeira
Ficha artística
autor Camilo Castello-Branco
encenação Rui Madeira
elenco André Laires, António Jorge, Carlos Feio, Eduarda Pinto, Jaime Monsanto, Rogério Boane e Solange Sá
cenografia João Dionísio
figurinos Manuela Bronze
criação vídeo Frederico Bustorff
criação sonora Pedro Pinto
design gráfico e fotografia Paulo Nogueira
desenho de luz Nilton Teixeira