De 1 Fevereiro a 30 de Março, Foyer
Apoio - Associazione Socio Culturale Italiana del
Portogallo Dante Alighieri
Entre Veneza e
o Porto
No mundo imaginário que a obra de Alessandra D' Agnolo
nos apresenta, somos confrontados com a realidade que aparentemente
negligenciamos de abandono ou de passagem fugaz e ludibriante nitidez, que de
tão nítida nos ofusca, numa penumbra que ela nos faz tocar. É. nesse material
frio da placa de lito que tempera existências perenes de objectos e de
paisagens sem aparente importância no quotidiano e que, não a deixando
indiferente, nos remetem para uma contemplação entre a nostalgia de um tempo
passado, como de uma elegia a um tempo futuro.
Não são imagens banais as que as suas composições nos
apresentam, apesar de os assuntos nos aparecerem vistos noutros contextos e
noutras situações que a história da arte nos foi ensinando através de exemplos
que a artista tão bem conhece e com quem tão bem convive, entre espaços
geográficos e culturais tão sólidos como os canais que comportam as aguas de
Veneto ou as margens de um rio dourado, como também, de quantos mares que
aproximam os homens e lhes mobilizam a alma.
Todo o percurso, aparente estático das imagens na
superfície, são viagens do olhar em torno de um sentido que nos faça entender o
mundo que atravessamos transitoriamente, como encantatóriamente. São viagens
que os seus olhos olharam e que generosamente partilham connosco.
Não são desenhos nem pinturas para distrair a atenção
do que de essencial faz sentido. Sem artifícios, a artista constrói uma
densidade que, por vezes dramática,
por vezes lírica, faz fluir a escrita entre detalhes
de números, de folhas, de objectos de história dos costumes e da arquitectura, consoante
o interesse da encenação e da vocação do seu discurso em enunciado. Consoante
se tratem naturezas mortas que afinal, são todas as nossas representações.
Gravadora de formação e com um entusiasmo contagiante
no que ao trabalho criador diz respeito, Alessandra D'Agnolo, dá-nos a
oportunidade de ver como se viaja entre o Porto e Veneza, numa simplicidade tão
afectuosa de calor quanto, por ironia de temperatura oposta, é o suporte das
imagens que nos dão a ver um mundo infindável de motivos que, querendo ver se
nos escapam, mas que ela nos restitui por inteiros ao mundo real que é sempre o
da nossa capacidade de ser inteligente.
Vemos o que queremos ver, quanto aceitamos o que
queremos aceitar. Mas, aqui, não temos espaço para duvidar do profundo labor e
conhecimento que a artista transporta para estas fortes imagens de sombra e de
penumbra. de contra-luz, quanto de diáfana planura lumínica de tão encandeados
estamos de luz espectacular e ruidosa da turbulência do mundo que ela nos
mostra, no silencio do seu sentimento e do seu testemunho singular quanto de
rara de aparição.
Francisco Laranjo
Artista e diretor da Escola de Belas Artes do Porto
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